IRAQUE
- manuelcostaraposo
- 2 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 16 de out. de 2024
O Iraque é um país situado no coração do Médio Oriente, com uma profunda história que remonta a milhares de anos. Prova disso é o território do atual Iraque ter sido lar de antigas civilizações como a suméria, a acadiana, a babilônica e a assíria, que floresceram nas férteis margens dos rios Tigre e Eufrates. Estas civilizações deixaram um legado cultural e histórico profundo, com contribuições fundamentais para a escrita, a lei e a ciência, incluindo a invenção da escrita cuneiforme e o Código de Hamurabi.

A geografia do Iraque é dominada pelos dois grandes rios, o Tigre e o Eufrates, que formam a base da região historicamente conhecida como Mesopotâmia, "a terra entre os rios". Esta área é uma das mais férteis do Médio Oriente, o que explica o surgimento das primeiras civilizações urbanas ter ocorrido aí. No entanto, o Iraque também inclui vastas extensões de deserto, especialmente no oeste e no sul do país, e as montanhas Zagros ao norte e leste, que fazem fronteira com o Irão e a Turquia.
Após a queda do Império Otomano no final da Primeira Guerra Mundial, o Iraque foi criado como um estado moderno sob mandato britânico em 1920, antes de ganhar sua independência formal em 1932. A monarquia iraquiana foi então instaurada, mas foi derrubada em 1958, quando o país se tornou uma república. A partir de então, o Iraque passou por várias fases de instabilidade política e golpes militares, culminando com a ascensão ao poder de Saddam Hussein em 1979. Hussein governou o país com mão de ferro até ser deposto pela invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003.
A era de Saddam Hussein foi marcada por brutalidade interna e conflitos externos. Durante os anos 1980, o Iraque esteve envolvido em uma devastadora guerra de oito anos com o Irã, que resultou em centenas de milhares de mortes e um impacto econômico desastroso para ambos os países. Na década seguinte, Saddam invadiu o Kuwait, levando à Primeira Guerra do Golfo em 1991, na qual uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos forçou a retirada iraquiana. A derrota resultou em severas sanções internacionais que devastaram a economia do país ao longo da década de 1990, exacerbando as tensões internas.
A invasão do Iraque em 2003 pelos Estados Unidos e seus aliados foi justificada pela alegação de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa, o que posteriormente se revelou infundado. A queda de Saddam criou um vácuo de poder que resultou em uma prolongada e sangrenta insurgência, conflitos sectários entre as comunidades xiitas, sunitas e curdas, e a ascensão de grupos extremistas como a Al-Qaeda e, mais tarde, o Estado Islâmico (ISIS). A guerra civil, que se intensificou após 2006, destruiu grande parte da infraestrutura do país e causou a morte de centenas de milhares de civis, além de milhões de deslocados internos e refugiados.
Politicamente, o Iraque pós-2003 tem lutado para estabelecer um sistema democrático funcional. O novo governo iraquiano, dominado pela maioria xiita, foi frequentemente acusado de marginalizar a minoria sunita, o que alimentou o ressentimento e a violência sectária. A autonomia da região curda no norte do país, que se consolidou após a queda de Saddam, também se tornou um ponto de tensão, especialmente em relação ao controle de áreas ricas em petróleo como Kirkuk. O país passou por uma série de eleições, mas a corrupção, o clientelismo e a interferência externa continuaram a minar a estabilidade política.
A economia do Iraque depende fortemente das exportações de petróleo, que representam a maioria das receitas do governo. No entanto, a má gestão, a corrupção e os danos causados por anos de conflito dificultaram o desenvolvimento econômico e a diversificação da economia. A infraestrutura do país, incluindo eletricidade, água e saúde, ainda está em estado crítico, e o desemprego e a pobreza são problemas persistentes. Além disso, as frequentes disputas políticas e os desafios à segurança continuam a prejudicar os esforços de reconstrução.
Culturalmente, o Iraque é um mosaico de comunidades étnicas e religiosas. A maioria da população é árabe e muçulmana, dividida entre xiitas e sunitas, mas o país também abriga outras minorias, como curdos, turcomanos, cristãos, yazidis e mandeístas. Apesar das profundas divisões que marcaram a história recente do país, o Iraque possui uma rica herança cultural que abrange desde a literatura e poesia até a música e a arquitetura. Cidades como Bagdá, que foi um centro cultural e intelectual durante a Idade de Ouro Islâmica, ainda mantêm vestígios dessa grandiosidade, apesar dos danos sofridos durante os conflitos recentes.
Nos últimos anos, o Iraque tem dado alguns passos em direção à recuperação e à estabilização. As forças iraquianas, com o apoio de uma coalizão internacional, conseguiram derrotar militarmente o Estado Islâmico em 2017, recuperando o controle de vastas áreas que haviam sido capturadas pelo grupo. Contudo, a ameaça do extremismo e a presença de milícias armadas continuam a representar desafios à autoridade do estado. A juventude iraquiana, que constitui uma grande parte da população, tem se mostrado cada vez mais ativa em demandas por reformas, como demonstrado nos protestos em massa que eclodiram em 2019, exigindo o fim da corrupção e melhores condições de vida.
A situação no Iraque permanece frágil, mas o país também demonstra uma notável resiliência. A luta pela reconstrução e pela paz é contínua, e o futuro do Iraque dependerá em grande parte de sua capacidade de superar as divisões sectárias, estabelecer uma governança eficaz e inclusiva, e revitalizar sua economia. Com uma história que remonta aos primórdios da civilização humana, o Iraque é um país que, apesar de seus desafios, carrega um potencial significativo para renascer como uma nação estável e próspera no Médio Oriente.
Comments